A Dissolução da Família
Muito se tem falado da família tradicional, e não raras vezes com algum tom de crítica e até de ironia. Mas o conceito de família tradicional se refere a quê? Por que setores da mídia e da opinião pública se espantam com uma instituição tão antiga como esta?
Segundo o psicólogo e filósofo argentino Martín Echavarría, o desenvolvimento da criança tem como ponto de partida a recepção amorosa e gratuita no seio de uma família. Portanto, a família (instituição tradicional por natureza) deve ser considerada o seu porto seguro, o chão por onde ela pisa, o ar que ela respira, o lugar que a sustenta, o sonho que ela acalenta cotidianamente, pois é o fundamento da sua própria identidade. Segundo Tomás de Aquino, assim como o ser humano necessita passar nove meses, desde a sua concepção, no útero materno, para desenvolver-se fisicamente, assim também ele necessita de cerca de sete anos no útero familiar para o seu desenvolvimento psíquico.
Em geral, é benéfica para as crianças a ruptura da estrutura familiar?
De acordo com Echavarría, os fatores propícios ao aparecimento de diversas desordens mentais, que podem aparecer em tenra idade, são os seguintes:
> Progressiva dissolução da família tradicional (isto é, da família em sentido estrito, com pai e mãe determinados, firmemente unidos e dispostos a educar);
> Depauperamento das condições de vida e das possibilidades sociais, legais, econômicas e trabalhistas (estabilidade, previsibilidade, segurança, suficiência, etc.);
> Inexistência de proteções da infância frente à difusão midiática de imagens, costumes imorais e até contra a natureza; e
> Exaltação do individualismo, do oportunismo, da busca do sucesso e da artificialidade nas relações interpessoais.
O estilo de vida pós-moderno, com o esfacelamento da identidade da cultura Ocidental, promove a queda no imediatismo, a impulsividade e a dissolução da identidade psíquica individual. Certas rupturas são responsáveis pela descontinuidade da estrutura da família e da comunidade. Não por outro motivo, muitas crianças acabam por ficar sob os cuidados de um único parente, sozinhas, desequilibradas, e muitos adultos tornam-se inseguros por não conseguirem manter relacionamentos de longo prazo. Outra mudança vem do fenômeno do pluralismo ideológico e da perda de papéis multisseculares, assim como de “ritos de passagem”, que fornecem ao indivíduo padrões de identidade e visões de mundo realísticas.
Uma sociedade pluralista, móvel e anômica, na qual os elos entre as pessoas são frágeis e efêmeros, é provavelmente o pior ambiente possível para a criança em fase de desenvolvimento, cuja necessidade particular de estabilidade é enorme.
Pais que pretendam fugir deste cenário ruim para a formação da personalidade das crianças devem meditar a respeito da necessidade, urgentíssima, de pautar a sua conduta pela consciência de que, sem estabilidade entre eles, os seus filhos ficarão à mercê de um sem-número de patologias, de desordens físicas e psíquicas.